Da imitação de Cristo e desprezo de todas as vaidades do mundo
2. A doutrina de
Cristo é mais excelente que a de todos os santos, e quem tiver seu espírito
encontrará nela um maná escondido. Sucede, porém, que muitos, embora ouçam
frequentemente o Evangelho, sentem nele pouco enlevo: é que não possuem o
Espírito de Cristo. Quem quiser compreender e saborear plenamente as palavras
de Cristo, é-lhe preciso que procure conformar à dele toda a sua vida.
3. Que te
aproveita discutires sabiamente sobre a SS. Trindade, se não és humilde,
desagradando, assim, a essa mesma Trindade? Na verdade, não são palavras
elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa que o torna agradável a
Deus. Prefiro sentir a contrição dentro de minha alma, a saber defini-la. Se
soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te
serviria tudo isso sem a caridade e a graça de Deus? Vaidade das vaidades, e
tudo é vaidade (Ecl 1,2), senão amar a Deus e só a ele servir. A suprema
sabedoria é esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos céus.
4. Vaidade é,
pois, buscar riquezas perecedoras e confiar nelas. Vaidade é também ambicionar
honras e desejar posição elevada. Vaidade, seguir os apetites da carne e
desejar aquilo pelo que, depois, serás gravemente castigado. Vaidade, desejar
longa vida e, entretanto, descuidar-se de que seja boa. Vaidade, só atender à
vida presente sem providenciar para a futura. Vaidade, amar o que passa tão
rapidamente, e não buscar, pressuroso, a felicidade que sempre dura.
5. Lembra-te a
miúdo do provérbio: Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir (Ecl
1,8). Portanto, procura desapegar teu coração do amor às coisas visíveis e
afeiçoá-lo às invisíveis: pois aqueles que satisfazem seus apetites sensuais
mancham a consciência e perdem a graça de Deus. (Tomás de Kempis: “Imitação de
Jesus Cristo”; cap. I; 1-5)
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