Se agires assim, aceitarei a reparação das culpas
Todos os
sofrimentos que o homem suporta ou pode nesta vida são insuficientes para
satisfazer pela menor culpa. Sendo Eu um bem infinito, a ofensa cometida contra
Mim pede satisfação infinita. Desejo que o compreendas os males desta
existência não são punições, mas correcção a filho que ofende. Assim, a
satisfação se dá pelo amor, pelo arrependimento e pelo desprezo do pecado. Esse
arrependimento é aceito em lugar da culpa e do reato (pena devida à culpa do
pecado), não pela virtude dos sofrimentos padecidos, mas pela infinidade do
amor. Foi quando ensinou Paulo, ao afirmar: “Se eu falasse a língua dos
anjos, adivinhasse o futuro, partilhasse os meus bens com os pobres, e
entregasse meu corpo às chamas, mas não tivesse a caridade, tudo isso nada
valeria”. (1 Cor. 3,3). O glorioso apóstolo faz ver que os gestos finitos
são insuficientes para punir ou satisfazer, sem a força da caridade. Como
percebes, as mortificações são coisas finitas e como tais hão de ser
praticadas. São meios, não finalidades.
Filha,
fiz-te ver que a culpa não é reparada neste mundo pelo sofrimento, suportados
unicamente como sofrimento, mas sim pelos sofrimentos aceitos com amor, com
desejo, com interna contrição.
Não basta a
força da mortificação; ocorre o anseio da alma. O mesmo acontece aliás com a
caridade e qualquer outra virtude, que somente possuem valor e produzem a vida
O caminho
para atingir o conhecimento verdadeiro e a experiência do Meu Ser – Vida eterna
que Sou – é este: nunca abandone o auto-conhecimento! Ao desceres para o vale
da humildade, reconhecer-Me-ás em ti, e de tal conhecimento receberás tudo
aquilo de que necessitas.
Nenhuma
virtude tem valor sem a caridade, no entanto é a humildade que forma e nutre a
caridade. Conhecendo-te, tu te humilharás ao perceber que, por ti mesma, nada
és. Verás que o teu ser procede de Mim, que vos amei, a ti e aos outros, antes
de virdes à existência.
Além disso,
quando quis recriar-vos na graça, com inefável amor, Eu vos lavei e vos concedi
uma vida nova no Sangue do Meu Filho Unigênito; n'Aquele Sangue derramado num
grande incêndio de amor. Para quem destrói em si o egoísmo, é no
autoconhecimento que tal Sangue manifesta a Verdade. Não existe outro meio. Por
meio dele, o homem em inexpremível amor conhece-Me e sofre. Não com um
sofrimento angustiante, aflitivo e árido, mas com uma dor que alimenta
interiormente. Ao conhecer a verdade, a alma sofrerá terrivelmente, pois toma
consciência dos próprios pecados e vê a cega ingratidão humana. Nenhuma dor
sofreria, se não amasse.
Logo que tu
e Meus servidores conhecerdes a Minha verdade, através daquele caminho, tereis
que sofrer tribulações, ofensas e desprezos por palavras e ações, até a morte.
Tudo isto, para glória e louvor do Meu nome. Sim, padecerás, sofrerás, tu e
Meus servidores; portanto, armai-vos de muita paciência, arrependimento de
vossos pecados e de amor à virtude, para glória e louvor de Meu nome. Agindo
assim, aceitarei a reparação das culpas tuas e dos demais servidores. Pela
força do amor e caridade, vossos sofrimentos serão suficientes para satisfação
e reparação por vós mesmos e pelos demais. (Santa Catartina de Sena:
Revelações, 1)
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