“Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mc. 12, 31).
Não se pode amar
a Deus sem amar ao mesmo tempo ao próximo. O mesmo preceito que nos manda o
amor para com Deus, manda-nos igualmente o amor para com os nossos irmãos: “Nós
temos de Deus este mandamento, que o que ama a Deus, ame também a seus irmãos”
(Jo. 4, 21). D’onde infere Santo Tomás de Aquino, que da mesma caridade nasce o
amor para com Deus e o para com o próximo, porque a caridade nos faz amar tanto
a Deus como ao próximo, visto que assim o quer o próprio Deus. — Deste modo
compreende-se o que São Jerónimo refere de São João Evangelista.
Perguntando-lhe os seus discípulos, porque tão repetidas vezes lhes recomendava
o amor fraternal, respondeu o Santo: “Porque é o preceito do Senhor; sendo bem
observado, basta para a salvação.”
Certo dia Santa
Catarina de Sena disse ao Senhor: “Meu Deus, quereis que eu ame ao meu próximo;
mas eu não posso amar senão a Vós.” Respondeu-lhe o nosso Salvador: “Minha
filha, aquele que me ama, ama todas as coisas que eu amo.” — Com efeito, quem
ama alguma pessoa, ama também os parentes, os servos, as imagens e até as
vestes da pessoa amada, pela razão que esta ama tais coisas. E porque é que nós
devemos amar ao próximo? Porque aqueles a quem amamos são objecto da
benevolência de Deus.
Por isso escreve
São João que é mentiroso o que diz que ama a Deus e odeia a seu irmão (1 Jo. 4,
20). Ao contrário, diz Jesus Cristo que aceitará como feita a si próprio a
caridade de que usarmos para com o mais pequenino de seus irmãos, que tais são
os nossos próximos (Mt. 25, 40). — Examina-te aqui, se tens até agora tido na
devida estima o preceito tão importante da caridade, e toma a resolução de
seres mais exacto para o futuro. Lembra-te que da observância deste preceito
depende o seres cristão não só de nome, mas também de facto: — “Nisto
conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo.
13, 35).
“Vós, como
escolhidos de Deus, revesti-vos de entranhas de misericórdia” (Col. 3, 12). Eis
aí o que, segundo São Paulo, deve fazer o cristão para conservar a caridade
para com o próximo. Ele diz: revesti-vos, de caridade. Assim como o homem leva
para toda parte o seu vestido, que o cobre inteiramente, assim deve levar consigo
a caridade em todas as suas acções e cobrir-se todo inteiro com ela. Diz ainda:
“revesti-vos de entranhas de misericórdia”. O cristão deve revestir-se, não
somente de caridade, mas de entranhas de caridade, o que quer dizer que deve
ter para com os seus irmãos tão grande ternura de afecto, como se cada um fosse
o seu predilecto particular.
Quem ama
vivamente uma pessoa, pensa sempre bem dela, alegra-se pela sua prosperidade e
entristece-se pelos seus males, como se fossem os próprios. Quando a pessoa amada
comete uma falta, que empenho em defendê-la, ao menos em diminuir-lhe a culpa!
Quando, ao contrário, faz algum bem, o amigo se desfaz em louvores e enaltece-a
até às estrelas. Eis o que faz a paixão. Ora, o que a paixão faz nas pessoas
mundanas, deve fazê-lo em nós a santa caridade, e não só para com aqueles que
nos fazem bem, mas ainda para com aqueles que nos tenham ofendido.
Ah, meu Redentor,
quão longe estou de me parecer convosco! Vós não fostes senão caridade para com
os vossos perseguidores, e eu rancoroso e odiento para com o meu próximo! Vós
rogastes com tanto amor pelos que Vos crucificaram, e eu só penso em tomar vingança
de quem me desagradou! Perdoai-me, ó meu Jesus, não quero mais ser o que fui.
Proponho firmemente imitar-Vos de hoje em diante, custe o que custar; proponho
amar a quem me ofende e fazer-lhe bem. Dai-me a graça de Vos ser fiel. — Ó
Maria, Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim; dai-me uma parte de vosso amor para
com o próximo; a vossa protecção é a minha esperança. (IV 178). (Santo Afonso
de Ligório: Meditações).
Imagem: Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja.
Sem comentários:
Enviar um comentário