quinta-feira, 6 de maio de 2021

CONFISSÕES

 CONFISSÕES

SOLICITUDE MATERNA


Ainda menino, ouvi falar da vida eterna, que nos está prometida pela humildade de Jesus, nosso Senhor, que desceu até nossa soberba; e fui marcado com o sinal da cruz, sendo-me dado saborear de seu sal logo que saí do ventre de minha mãe, que sempre esperou muito em ti.

Tu viste, Senhor, que numa ocasião, ainda menino, atacou-me repentinamente uma dor de estômago que me abrasava, e que me aproximou da morte. Tu viste também, meu Deus, pois já me tinhas sob tua guarda, com que fervor de espírito e com que fé pedi à piedade de minha mãe, e da mãe de todos nós, tua Igreja, o baptismo de teu Cristo, meu Deus e Senhor. Perturbou-se minha mãe carnal, pois que me criava com mais amor em seu casto coração em tua fé para a vida eterna e, solícita, já havia cuidado de que me iniciasse e purificasse com os sacramentos da salvação, confessando-te, ó meu Senhor Jesus, em remissão de meus pecados, quando, de repente, comecei a melhorar. Em vista disso, diferiu-se minha purificação, considerando que seria impossível, se eu vivesse, que não me tornasse a manchar; pois a culpa dos pecados cometidos depois do baptismo é muito maior e mais perigosa.

Nesta época eu já tinha fé verdadeira, juntamente com minha mãe e com todos da casa, à excepção de meu pai, que, porém, não pôde vencer em mim a ascendência da piedade materna, para que deixasse de acreditar em Cristo, tal como ele não acreditava; minha mãe, solícita, cuidava de que tu, meu Deus, fosses mais pai para mim do que ele, e a ajudavas a triunfar do marido, a quem servia melhor, porque nele te servia a ti e a tuas ordens. (Santo Agostinho de Hipona: Confissões; cap. 11)

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