Que toda a criação celebre a subida da Mãe de Deus

Eis a Virgem,
filha de Adão e Mãe de Deus: por causa de Adão entrega seu corpo à terra, mas
por causa de seu Filho eleva a alma aos tabernáculos celestes! Santificada seja
a Cidade santa, que acolhe mais essa bênção eterna! Que os anjos precedam a
passagem da divina morada e preparem seu túmulo, que o fulgor do Espírito a
decore! Preparai aromas para embalsamar o corpo imaculado e repleto de
delicioso perfume! Desça uma onda pura a fim de haurir a bênção da fonte
imaculada da bênção! Alegre-se a terra de receber o corpo e exulte o espaço
pela ascensão do espírito! Soprem as brisas, suaves como o orvalho e cheias de
graça! Que toda a criação celebre a subida da Mãe de Deus: os grupos de jovens
em sua alegria, a boca dos oradores em seus panegíricos, o coração dos sábios
em suas dissertações sobre essa maravilha, os velhos de veneráveis cãs em suas
contemplações. Que todas as criaturas se associem nessa homenagem, que ainda
assim não seria suficiente. Todos, pois, deixemos em espírito este mundo com
aquela que dele parte. Sim, todos, pelo fervor do coração, desçamos com a que
desce à sepultura e ali nos coloquemos. Cantemos hinos sacros e nossas melodias
se inspirem nas palavras: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!"
Permanece na alegria, tu que foste predestinada a ser Mãe de Deus. Permanece na
alegria, tu que foste eleita antes dos séculos por um desígnio de Deus, germe
divino da terra, habitação do fogo celeste, obra-prima do Espírito Santo, fonte
de água viva, paraíso da árvore da vida, ramo vivo que portas o divino fruto,
donde fluem o néctar e a ambrosia, rio de aromas do Espírito, terra produtora
da divina espiga, rosa resplandecente da virgindade, donde emana o perfume da
graça, lírio da veste real, ovelha que geras o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo, instrumento de nossa salvação, superior às potências
angélicas, serva e Mãe!
Vinde,
enfileiremo-nos em torno ao túmulo imaculado para dali sorvermos a divina
graça! Vinde, abracemos em espírito o corpo virginal. Entremos no sepulcro e
morramos nele, rejeitando as paixões da carne, vivendo uma vida sem
concupiscência e sem mácula. Escutemos os hinos divinos, cantados
imaterialmente pelos anjos. Entremos para adorar, aprendamos a conhecer o
mistério inaudito: como esse corpo foi elevado às alturas, arrebatado ao céu,
como a Virgem foi posta junto de seu Filho acima dos coros angélicos, de sorte
que nada se interpusesse entre Mãe e Filho.
Tal é, depois de
outros dois, o terceiro discurso que compus acerca de tua partida, ó Mãe de
Deus, em honra e amor da Trindade, cuja cooperadora foste, por benevolência do
Pai e por virtude do Espírito, quando recebeste o Verbo sem princípio, a
Sabedoria omnipotente, a Força de Deus. (São João Damasceno: Homilia sobre a
Dormição de Maria).
Imagrm: São João Damasceno e a Virgem Maria.
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