Uma Senhora, mais brilhante que o Sol
– É melhor irmos
embora para casa, – disse a meus primos – que estão a fazer relâmpagos; pode
vir trovoada.
– Pois sim.
E começamos a
descer a encosta, tocando as ovelhas em direcção à estrada. Ao chegar, mais ou
menos a meio da encosta, quase junto duma azinheira grande que aí havia, vimos
outro relâmpago e, dados alguns passos mais adiante, vimos, sobre uma carrasqueira,
uma Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante que o Sol, espargindo luz,
mais clara e intensa que um copo de cristal, cheio d’água cristalina,
atravessado pelos raios do sol mais ardente. Parámos surpreendidos pela aparição.
Estávamos tão perto, que ficávamos dentro da luz que A cercava ou que Ela
espargia, talvez a metro e meio de distância, mais ou menos.
Então Nossa
Senhora disse-nos:
– Não tenhais
medo. Eu não vos faço mal.
– De onde é
Vossemecê? – lhe perguntei.
– Sou do Céu.
– E que é que
Vossemecê me quer?
– Vim para vos
pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia
– E eu também vou
para o Céu?
– Sim, vais.
– E a Jacinta?
– Também.
– E o Francisco?
– Também, mas tem
que rezar muitos terços.
Lembrei-me então
de perguntar por duas raparigas que tinham morrido há pouco. Eram minhas amigas
e estavam em minha casa a aprender a tecedeiras com minha irmã mais velha.
– A Maria das
Neves já está no Céu?
– Sim, está.
Parece-me que
devia ter uns 16 anos.
– E a Amélia?
– Estará no
purgatório até ao fim do mundo.
Parece-me que
devia ter de
– Quereis
oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser
enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de
súplica pela conversão dos pecadores?
– Sim, queremos.
– Ides, pois, ter
muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.
Foi ao pronunciar
estas últimas palavras (a graça de Deus, etc.) que abriu pela primeira vez as
mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia,
que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós
mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos vemos no melhor dos
espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e
repetíamos intimamente:
– Ó Santíssima
Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo
Sacramento.
Passados os primeiros
momentos, Nossa Senhora acrescentou:
– Rezem o terço
todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra.
Em seguida,
começou-Se a elevar serenamente, subindo em direcção ao nascente, até
desaparecer na imensidade da distância. A luz que A circundava ia como que
abrindo um caminho no cerrado dos astros, motivo por que alguma vez dissemos
que vimos abrir-se o Céu.
Parece-me que já
expus, no escrito sobre a Jacinta ou numa carta, que o medo que sentimos não
foi propriamente de Nossa Senhora, mas sim da trovoada que supúnhamos lá vir; e
dela, da trovoada, é que queríamos fugir. As aparições de Nossa Senhora não
infundem medo ou temor, mas sim surpresa. Quando me perguntavam se tinha
sentido e dizia que sim, referia-me ao medo que tinha tido dos relâmpagos e da
trovoada que supunha vir próxima; e disto foi do que quisemos fugir, pois
estávamos habituados a ver relâmpagos só quando trovejava.
Os relâmpagos
também não eram propriamente relâmpagos, mas sim o reflexo duma luz que se
aproximava. Por vermos esta luz, é que dizíamos, às vezes, que víamos vir Nossa
Senhora; mas, propriamente, Nossa Senhora só A distinguíamos nessa luz, quando
já estava sobre a azinheira. O não sabermos explicar e querer evitar perguntas
foi que deu lugar a que umas vezes disséssemos que A víamos vir, outras que
não. Quando dizíamos que sim, que A víamos vir, referíamo-nos a que víamos
aproximar essa luz que, afinal, era Ela. E quando dizíamos que A não víamos
vir, referíamos a que, propriamente Nossa Senhora, só A víamos quando já estava
sobre a azinheira. (Memórias da Irmã Lúcia de Jesus; Edições de Fátima)
[1] Esta «sétima vez» já foi em 16 de Junho de 1921, nas vésperas da sua
partida para o colégio de Vilar, no Porto. Foi uma aparição com mensagem
pessoal para Lúcia, que, por isso, não a revelou.
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