segunda-feira, 10 de maio de 2021

SOBRE A ORAÇÃO

O que a luz do sol é para o corpo, a oração é para a alma


Duas razões me convidam a admirar e mais ainda a estimar os bem-aventurados servos de Deus: primeiramente, porque eles colocaram todas as suas esperanças de salvação na santidade da oração: em segundo lugar, porque eles conservaram por escrito os hinos e as orações que ofereciam a Deus com alegria e temor, e que nos transmitiram seu tesouro com a finalidade de inspirar o mesmo zelo a toda posteridade. É conveniente, portanto, que os costumes dos mestres passem aos discípulos, é conveniente que os ouvintes dos profetas se tornem imitadores de sua justiça a fim que nós consagremos a nossa vida à oração, a honrar e a servir a Deus; dirigindo-nos a Ele, com uma alma inocente e pura, por nossa vida, nossa saúde, nossas riquezas, e pelo aumento da graça.

O que a luz do sol é para o corpo, a oração é para a alma: se é uma infelicidade para o cego não ver o sol, que infelicidade não será para o cristão não rezar incessante, e não atrair a luz de Cristo para a alma? E, entretanto, quem não consideraria com surpresa e admiração a caridade que Deus nos demonstra e a honra que ele concede aos homens de a Ele se voltarem pela oração e com Ele conversarem? Pois é verdadeiramente com Deus que nós falamos durante a oração, a qual, além disso, nos reúne aos anjos e nos eleva bem acima da nossa bruta condição.

A oração é o ato dos Anjos; ela supera mesmo a sua dignidade, pois a dignidade angélica é inferior à dignidade do encontro com Deus. Esta inferioridade, por consequência, os anjos nos ensinam pelo profundo temor com que eles oferecem suas orações a Deus; ensinando a nós mesmos, quando nos aproximarmos de Deus, a estar diante dele com temor e alegria; com temor, pois nós poderemos ser indignos da oração; com alegria, pois devemos ser preenchidos desta honra incomparável que nos é concedida: uma raça mortal sendo admitida a um favor tão alto como conversar com Deus, e de se elevar por este meio acima da corrupção e da morte. Mortais por nossa natureza, pela familiaridade com Deus nós nos aproximaremos de uma condição imortal. Assim, qualquer um que fale frequentemente com Deus torna-se certamente mais forte que a morte e a corrupção. Do mesmo modo que não temos nada de comum com as trevas quando somos iluminados pelos raios do sol, assim aquele que goza da familiaridade de Deus deve ser necessariamente superior à morte. A honra deslumbrante com a qual nós somos gratificados nos conduz à imortalidade. (São João Damasceno: Sobre a oração).

Imagem: S. João Damasceno, Doutor da Igreja.

Sem comentários:

Enviar um comentário