O que a luz do sol é para o corpo, a oração é para a alma
O que a luz do sol é para o corpo, a oração é para a alma: se é uma
infelicidade para o cego não ver o sol, que infelicidade não será para o cristão
não rezar incessante, e não atrair a luz de Cristo para a alma? E, entretanto,
quem não consideraria com surpresa e admiração a caridade que Deus nos
demonstra e a honra que ele concede aos homens de a Ele se voltarem pela oração
e com Ele conversarem? Pois é verdadeiramente com Deus que nós falamos durante
a oração, a qual, além disso, nos reúne aos anjos e nos eleva bem acima da
nossa bruta condição.
A oração é o ato dos Anjos; ela supera mesmo a sua dignidade, pois a
dignidade angélica é inferior à dignidade do encontro com Deus. Esta
inferioridade, por consequência, os anjos nos ensinam pelo profundo temor com
que eles oferecem suas orações a Deus; ensinando a nós mesmos, quando nos
aproximarmos de Deus, a estar diante dele com temor e alegria; com temor, pois
nós poderemos ser indignos da oração; com alegria, pois devemos ser preenchidos
desta honra incomparável que nos é concedida: uma raça mortal sendo admitida a
um favor tão alto como conversar com Deus, e de se elevar por este meio acima
da corrupção e da morte. Mortais por nossa natureza, pela familiaridade com
Deus nós nos aproximaremos de uma condição imortal. Assim, qualquer um que fale
frequentemente com Deus torna-se certamente mais forte que a morte e a
corrupção. Do mesmo modo que não temos nada de comum com as trevas quando somos
iluminados pelos raios do sol, assim aquele que goza da familiaridade de Deus
deve ser necessariamente superior à morte. A honra deslumbrante com a qual nós
somos gratificados nos conduz à imortalidade. (São João Damasceno: Sobre a oração).
Imagem: S. João Damasceno, Doutor da Igreja.
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