domingo, 9 de maio de 2021

VIA-ME LIGADA À SANTÍSSIMA TRINDADE

Disseram-me que nunca cairia em pecado mortal


Na manhã da Santíssima Trindade, tendo feito a minha Profissão, senti-me completamente privada do uso dos meus sentidos e atraída pelo conhecimento e compreensão do laço que me unia a Deus. Via-me ligada à Santíssima Trindade por três laços: os três votos aos quais me comprometi pela minha Profissão. Pelo primeiro, o voto de castidade, eu estava ligada e unida ao Pai eterno, que é a própria pureza. Esta pareceu-me a união e o vínculo mais próximo que a alma pode contrair com Deus, pela conformidade com Deus que recebe uma alma pura. Via-me unida a Deus de tal maneira e de tão perto que parecia impossível para mim, jamais poder separar-me d’Ele a menos que tivesse caído no pecado da carne. Mas o elo de pureza não seria destruído pelos outros pecados, mesmo se estivesse sujo e distendido a ponto de parecer quase quebrado; e esta ligação me pareceu tão preciosa que nem a sua grandeza nem a união que a alma contrai com Deus pode ser expressa pela fala humana.

Depois senti-me ligada e unida ao meu esposo Jesus, pelo voto de obediência, um laço que me parecia também mais nobre do que se poderia pensar. E vendo quanto esta virtude é preciosa, grande e útil, afligia-me por ter tão pouco reconhecido a sua utilidade e o seu valor no passado, porque esta santa virtude torna a alma mais conforme a Jesus, que foi totalmente obediente. E eu via que, se as criaturas pudessem conhecer a grandeza e a utilidade que que esta virtude traz à alma, elas se submeteriam a qualquer ser, ainda que pequeno. Parecia-me que esta virtude era particularmente necessária ao noviciado, onde os noviços não sabem o seu valor.

Então senti-me ligada ao Espírito Santo pelo voto de pobreza. Não que a alma lhe estivesse conforme, o Espírito Santo está cheio de tesouros e riquezas celestes, mas eu pensava estar da maneira que Jesus fala no Evangelho: Bem-aventurados os pobres de espírito (Mt 5,3) e felizes as almas que conhecem, sabem receber e guardar em si as riquezas e os tesouros deste Espírito.

Depois, como na véspera do dia da Santíssima Trindade eu tinha oferecido o meu coração a Jesus, eu soube que Ele o tinha aceitado, porque esta manhã eu vi Jesus entregar-me e dar-me ao mesmo tempo a pureza da Virgem Maria, tão perfeita aos meus olhos que eu não consigo expressá-lo.

Depois disso, Jesus me acariciava gentilmente, assim como uma nova esposa, uniu-me a Ele e me pressionou contra o seu Coração, onde encontrei um descanso muito doce. Então, pareceu-me que o Senhor me tirava a minha vontade e de todos os meus desejos, para que eu não pudesse querer ou desejar nada além da vontade do Senhor, minha vontade tão estando tão conformada e tão unida a Deus que eu mesma possa desejar ou querer outra coisa. Se ele me quisesse condenar, eu ainda estaria feliz e não me preocuparia mais com a morte nem a cura: eu só quero o que é a vontade de Deus.

Finalmente, pareceu-me que Jesus e a Santíssima Trindade me prometeram que nunca cairia em pecado mortal, e fiquei muito satisfeita com isso, de modo que na doçura que senti não me pude conter de chorar. (Santa Maria Madalena de Pazzi: “Quarenta dias”, 27 de Maio de 1584).

Imagem: Santa Maria Madalena de Pazzi.

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