Disseram-me que nunca cairia em pecado mortal
Depois senti-me ligada
e unida ao meu esposo Jesus, pelo voto de obediência, um laço que me parecia
também mais nobre do que se poderia pensar. E vendo quanto esta virtude é
preciosa, grande e útil, afligia-me por ter tão pouco reconhecido a sua
utilidade e o seu valor no passado, porque esta santa virtude torna a alma mais
conforme a Jesus, que foi totalmente obediente. E eu via que, se as criaturas pudessem
conhecer a grandeza e a utilidade que que esta virtude traz à alma, elas se
submeteriam a qualquer ser, ainda que pequeno. Parecia-me que esta virtude era
particularmente necessária ao noviciado, onde os noviços não sabem o seu valor.
Então senti-me
ligada ao Espírito Santo pelo voto de pobreza. Não que a alma lhe estivesse
conforme, o Espírito Santo está cheio de tesouros e riquezas celestes, mas eu
pensava estar da maneira que Jesus fala no Evangelho: Bem-aventurados os pobres
de espírito (Mt 5,3) e felizes as almas que conhecem, sabem receber e guardar
em si as riquezas e os tesouros deste Espírito.
Depois, como na
véspera do dia da Santíssima Trindade eu tinha oferecido o meu coração a Jesus,
eu soube que Ele o tinha aceitado, porque esta manhã eu vi Jesus entregar-me e dar-me
ao mesmo tempo a pureza da Virgem Maria, tão perfeita aos meus olhos que eu não
consigo expressá-lo.
Depois disso,
Jesus me acariciava gentilmente, assim como uma nova esposa, uniu-me a Ele e me
pressionou contra o seu Coração, onde encontrei um descanso muito doce. Então,
pareceu-me que o Senhor me tirava a minha vontade e de todos os meus desejos,
para que eu não pudesse querer ou desejar nada além da vontade do Senhor, minha
vontade tão estando tão conformada e tão unida a Deus que eu mesma possa
desejar ou querer outra coisa. Se ele me quisesse condenar, eu ainda estaria
feliz e não me preocuparia mais com a morte nem a cura: eu só quero o que é a
vontade de Deus.
Finalmente,
pareceu-me que Jesus e a Santíssima Trindade me prometeram que nunca cairia em
pecado mortal, e fiquei muito satisfeita com isso, de modo que na doçura que
senti não me pude conter de chorar. (Santa Maria Madalena de Pazzi: “Quarenta
dias”, 27 de Maio de 1584).
Imagem: Santa Maria Madalena de Pazzi.
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