Começa hoje para Maria uma segunda existência
Alegra-te, Sião,
montanha divina e santa, onde habitou a outra montanha divina, a montanha
vivente, a nova Betel, ungida na pedra, a natureza humana ungida pela
divindade. De ti, como de um jardim de oliveiras, e Filho se elevou às celestes
alturas. Que uma nuvem se componha, universal e cósmica, e que as asas dos
ventos tragam os apóstolos dos confins da terra até Sião![1] Quem são aqueles que, como nuvens e
águias, voam para o corpo – fonte de toda ressurreição, a fim de cultuar a Mãe
de Deus? Quem é a que sobe, na flor de sua alvura, toda bela, brilhante como o
sol? Que cantem as cítaras do Espírito, isto é, as línguas dos apóstolos! Que
ressoem os címbalos, isto é, os arautos eminentes da palavra de Deus! Que esse
vaso de eleição, Hieroteu[2], santificado pelo Espírito Santo e pela
união divina capacitado a sofrer as realidades divinas, seja arrebatado do
corpo, e em transportes de fervor entoe seus hinos! Que todas as nações
aplaudam e celebrem a Mãe de Deus! Que os anjos prestem culto ao corpo mortal!
Filhas de
Jerusalém, feitas cortejo da Rainha, e virgens suas companheiras, ide com ela
até o Esposo, levai-a à direita do Senhor! Desce, ó Soberano, vem pagar à tua
Mãe a dívida que ela merece por te haver nutrido! Abre tuas mãos divinas e
acolhe a alma de tua mãe, tu que sobre a cruz entregaste o espírito às mãos do
Pai! Dirige-lhe um suave apelo: vem, ó formosa, ó bem-amada, mais
resplandecente pela virgindade do que o sol, tu me partilhaste teus bens, vem
agora gozar junto de mim o que te pertence!
Aproxima-te, ó
Mãe, de teu Filho, aproxima-te e participa do poder régio daquele que, nascido
de ti, contigo viveu na pobreza! Ascende, ó Soberana, ascende! Já não vale a
ordem dada a Moisés: “Sobe e morre...” (Dn 31, 48) Morre, sim, mas eleva-te
pela própria morte!
Entrega tua alma às
mãos de teu Filho e devolve à terra o que é da terra, pois mesmo isso será
carregado por ti.
Erguei vossos
olhos, Povo de Deus, alçai vosso olhar! Eis em Sião a arca do Senhor Deus dos
exércitos, à qual vieram pessoalmente prestar assistência os apóstolos,
tributando seu derradeiro culto ao corpo que foi princípio de vida e
receptáculo de Deus. Imaterialmente e invisivelmente os anjos o cercam com
respeito, como servidores da Mãe de seu Senhor. O próprio Senhor lá está, omnipresente,
ele que tudo enche e abraça, que na verdade não está em lugar algum porque nele
tudo está como na causa que tudo criou e tudo encerra. (São João Damasceno:
Homilia sobre a Dormição de Maria)
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