segunda-feira, 31 de maio de 2021

PORQUE TE QUEIXAS, IRMÃO?

Se administras os sacramentos, ó irmão, medita no que fazes


Queixa-se de que, ao entrar no coro para a salmodia, ao dirigir-se para celebrar a missa, logo mil pensamentos lhe assaltam a mente e o distraem de Deus. Mas, antes de ir ao coro ou à missa, que fez na sacristia, como se preparou, que meios escolheu e empregou para fixar a atenção?

 

Se administras os sacramentos, ó irmão, medita no que fazes; se celebras a missa, medita no que ofereces; se salmodias no coro, medita a quem e no que falas; se diriges as almas, medita no sangue que as lavou e, assim, tudo o que é vosso se faça na caridade. (S. Carlos Borromeu: Antologia)

Na imagem:
São Carlos Borromeu, Doutor da Igreja.

sábado, 29 de maio de 2021

PROGRESSO NA PERFEIÇÃO

Através da grandeza da devoção


Nestas três expressões (amamentarei-conduzirei-falarei ao coração) podem-se notar também três situações: aquela de quem está no começo, aquela de quem está progredindo e aquela de quem já está na perfeição. É a graça que amamenta quem está no começo e o ilumina para que cresça e progrida de virtude em virtude; e por isso o conduz do barulho dos vícios, do tumulto dos pensamentos à solidão, isto é, à quietude interior da mente. Aí então, torna-o perfeito, fala-lhe ao coração e ele sente a doçura da inspiração divina e pode elevar-se de corpo e alma à alegria do espírito. E então, como é grande em seu coração a devoção! E como são grandes também a contemplação e o êxtase! Através da grandeza da devoção, a pessoa eleva-se acima de si mesma. (Santo António de Lisboa: Sermões: “Na solidão encontrarás o Senhor”, 1).

AMOR PARA DAR AS ALMAS

 Dai-me o Vosso amor


– Obrigada, meu Jesus, obrigada, Mãezinha. Custa-me tanto desprender-me de Vós, sair deste amor! Sim, por Vosso amor desprendo-me, mas antes dai-me este amor para dar às almas que eu amo e me são tão queridas; dai-mo para eu dar a todos os meus, dai-mo para eu dar àquela alma que está em perigo e por quem Vos ofereci hoje os meus sofrimentos. Quero que ela se salve e como sinal disso não quero que morra sem todos os sacramentos. Dai-mo para eu dar às almas que tanto me fazem sofrer, para que Vos conheçam melhor e Vos amem cada vez mais. Dai-mo para dar ao mundo inteiro, para que ele seja salvo. (Sentimentos da alma: 19 de Janeiro de 1945).

sexta-feira, 28 de maio de 2021

O SEGREDO DE MARIA

Eis o segredo


Eis aqui, ó alma predestinada, um segredo que o Altíssimo me confiou e que não pude encontrar em nenhum livro, antigo ou novo. Pelo Espírito Santo eu o confio a ti, contanto:

— que o não comuniques senão às pessoas que o mereçam — por suas orações, esmolas, mortificações, pelas perseguições sofridas, pelo seu zelo na salvação das almas e pelo seu desprendimento;

— que te sirvas dele para te tornares santa e celeste, por isso que só será grande este segredo para os que dele se utilizarem. Toma cuidado em não ficares de braços cruzados, sem trabalho; destarte meu segredo te serviria de veneno e seria a tua condenação. (S. Luís Maria Grignion de Montfort; O segredo de Maria, 1).

MATRIMÓNIO ESPIRITUAL

«O noivo está com eles»


«Foi à sombra da árvore de Adão (cf Ct. 8, 5) que te tornaste minha desposada; aí te dei a minha mão, e assim foste reparada no próprio lugar onde tua mãe fora violada».

No elevado estado do matrimónio espiritual [descrito neste poema], o Noivo descobre com grande facilidade e frequência os seus maravilhosos segredos à alma que é sua fiel consorte, porque o amor verdadeiro e íntegro não sabe encobrir nada àquele que ama. Comunica-lhe principalmente os doces mistérios da sua encarnação, e os modos e maneiras da redenção humana, que é uma das mais elevadas obras de Deus e por isso mais saborosa para a alma. É isso que o Noivo declara nesta estrofe, onde se pode ver com que terno amor descobre à alma estes grandes mistérios.

Ele mostra-lhe a maneira admirável como a remiu e a desposou, por mesmos modos como a natureza humana foi estragada e perdida, dizendo-lhe que, assim como foi perdida e estragada por Adão por meio da árvore vedada no Paraíso, assim na árvore da cruz foi remida e reparada; Ele estende-lhe a mão do seu favor e da sua misericórdia por meio da sua Paixão e morte, suspendendo a hostilidade que havia entre o homem e Deus desde o pecado original. (S. João da Cruz: “Cântico espiritual”)

DAR GRAÇAS A DEUS

Ó Senhor, desejo louvar-te e agradecer-te


Ó Senhor, desejo louvar-te e agradecer-te porque, apesar da minha indignidade, mantiveste tua transbordante ternura para comigo. Quero ainda louvar-te porque alguns, ao ler estas páginas, poderão saborear na intimidade de seu ser as mais elevadas experiências. De facto, por meio do alfabeto, alcançam a ciência da filosofia aqueles que querem estudar; similarmente, por meio de sinais que, na verdade, são apenas figuras retratadas, os leitores destas páginas aprenderão a degustar dentro de si mesmos aquele maná escondido que não poderia ser associado a nenhuma mistura de imagens corpóreas, e de cujo sabor somente quem já experimentou sentirá fome. (Santa Gertrudes de Helfta: Escritos espirituais)

A FÉ TORNA O POBRE RICO

Grande coisa é um homem de fé


«Quem achará um homem verdadeiramente fiel?», pergunta a Escritura (Pr. 20,6). Não to digo para te incitar a abrires-me o coração, mas para que mostres a Deus a candura da tua fé, a esse Deus que sonda os rins e os corações, e que conhece os pensamentos dos homens (cf. Sl 7,10; 93,11). Sim, grande coisa é um homem de fé, mais rico do que todos os ricos. Com efeito, o crente possui todas as riquezas do Universo, dado que as despreza e as esmaga aos pés; já os ricos, mesmo que possuam imensas coisas materiais, são espiritualmente pobres: quanto mais juntam, mais consumidos se sentem pelo desejo daquilo que não têm. Pelo contrário, e esse é o cúmulo do paradoxo, o homem de fé é rico na sua pobreza, porque sabe que apenas precisa de se alimentar e se vestir; contentando-se com isso, pode pisar as riquezas aos pés. (São Cirilo de Jerusalém: Catequese baptismal 5)

EUCARISTIA: A MAIS NOBRE DEVOÇÃO

 Se os anjos pudessem sentir inveja


A devoção à Eucaristia é a mais nobre de todas as devoções, porque tem o próprio Deus por objecto; é a mais salutar porque nos dá o próprio autor da graça; é a mais suave, pois suave é o Senhor. Se os anjos pudessem sentir inveja, nos invejariam porque podemos comungar. (Papa São Pio V).

quinta-feira, 27 de maio de 2021

EUCARISTIA: ORIGEM DA SANTIDADE

Quantos e quantos santos poderiam testemunhar!


Amados irmãos e irmãs, a Eucaristia está na origem de toda a forma de santidade, sendo cada um de nós chamado à plenitude de vida no Espírito Santo. Quantos santos tornaram autêntica a própria vida, graças à sua piedade eucarística! De Santo Inácio de Antioquia a Santo Agostinho, de Santo Antão Abade a São Bento, de São Francisco de Assis a São Tomás de Aquino, de Santa Clara de Assis a Santa Catarina de Sena, de São Pascoal Bailão a São Pedro Julião Eymard, de Santo Afonso Maria de Ligório ao Beato Carlos de Foucauld, de São João Maria Vianey a Santa Teresa de Lisieux, de São Pio de Pietrelcina à Beata Teresa de Calcutá, do Beato Pedro Jorge Frassati ao Beato Ivan Mertz, para mencionar apenas alguns de tantos nomes, a santidade sempre encontrou o seu centro no sacramento da Eucaristia”. (Bento XVI: Ensinamentos)

O VALOR DAS BOAS OBRAS

Muitos renunciam ao que tinham empreendido


Vigiai para que a palavra que recebestes ressoe no fundo do vosso coração e aí permaneça. Tende cuidado para que a semente não caia ao longo do caminho, receando que o Espírito mau venha apagar a palavra da vossa memória. Tende cuidado para que o chão pedregoso não receba a semente e não produza uma boa acção desprovida das raízes da perseverança. Com efeito, muitos se alegram ao ouvir a palavra e se dispõem a empreender boas obras. Mas apenas as provações começaram a apertá-los, eles renunciam ao que tinham empreendido. Assim, o solo pedregoso teve falta de água, de tal forma que o germe da semente não chegou a dar o fruto da perseverança.

Mas a terra boa dá fruto pela paciência: entendamos por isso que as nossas boas obras podem ter valor se suportarmos pacientemente os inconvenientes que o nosso próximo nos provoca. Aliás, quanto mais avançamos para a perfeição, mais provas temos de suportar; uma vez que a nossa alma abandonou o amor do mundo presente, cresce a hostilidade desse mundo. É por isso que vemos muitos que penam sob um pesado fardo (Mt 11,28), sendo boas as suas obras. Mas, de acordo com a palavra do Senhor, “eles produzem fruto pela sua perseverança”, suportando humildemente essas provas, de tal forma que, após terem penado, serão convidados a entrar na paz do céu. (S Gregório Magno: Comentários aos Evangelhos)

quarta-feira, 26 de maio de 2021

DEUS MOSTRA A SUA GRANDEZA INFINITA

Tudo concorre para o bem de cada alma


Assim se abaixando, Deus mostra sua grandeza infinita. Assim como o sol ilumina os cedros e cada florzinha, como se somente ela existisse sobre a terra, da mesma forma Deus cuida pessoalmente de cada alma, como se não existisse outra além dela. E assim como na natureza todas as estações estão de tal modo organizadas que no momento certo se abre até a mais humilde margarida, da mesma forma tudo concorre para o bem de cada alma. (Santa Teresinha do Menino Jesus: “Historia de uma alma”; Manuscrito A).

ESCRAVO OBEDIENTE

«Dar a vida pela redenção de todos»


Um Deus que serve, que varre a casa, que realiza trabalhos penosos – qualquer destes pensamentos deveria bastar para nos encher de amor! Quando o Salvador começou a pregar o seu evangelho, tornou-Se «o escravo de todos», Ele que afirmou de Si mesmo que «não veio para ser servido, mas para servir»; foi como se tivesse dito que queria ser escravo de todos os homens. E, no final da sua vida, conforme dizia São Bernardo, «não contente com o facto de ter tomado a condição de servo para Se colocar ao serviço dos homens, quis ainda tomar a aparência de servo indigno, para ser maltratado e suportar o castigo que devia cair sobre nós, em consequência dos nossos pecados».

Eis que o Senhor, escravo obediente, Se submeteu à injusta sentença de Pilatos e Se entregou aos seus algozes. [...] Tanto nos amou Deus que, por amor de nós, quis obedecer como escravo e morrer de morte dolorosa e infame, o suplício da cruz (cf. Fil 2,8).

Ora, em tudo isso Ele obedecia, não como Deus, mas como homem, como escravo, cuja condição assumira. Tal santo entregou-se como escravo para resgatar um pobre e atraiu a admiração do mundo devido a esse ato heróico de caridade. Mas que caridade é essa, comparada com a do Redentor, que, sendo Deus e querendo resgatar-nos da escravidão do diabo e da morte, que nos era devida, Se tornou Ele mesmo escravo e Se deixou pregar na cruz? «Para que o escravo se torne senhor», dizia Santo Agostinho, «Deus quis fazer-Se escravo». (Santo Afonso-Maria de Ligório: Obras, t. 14).

terça-feira, 25 de maio de 2021

AS PENAS DO PURGATÓRIO

Não há língua que a possa expressar


Aquelas almas sofrem – no Purgatório – uma pena tão extrema que não há língua que a possa expressar, nem inteligência que possa compreender sequer a mínima parte dela, se Deus, por uma graça especial, não a mostrar. O mínimo desta pena, Deus, por esta graça especial, a mostrou à minha alma; porém, não posso expressá-la com minhas palavras. E esta visão que me mostrou o Senhor nunca mais se apagou da minha mente. (Santa Catarina de Génova: Tratado do Purgatório. Introdução, 3).

CEM É UM NÚMERO PERFEITO

«Cem vezes mais»


[Santa Catarina de Sena ouviu Deus dizer-lhe:] Quando Pedro Lhe disse: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir», a minha Verdade respondeu-lhe: «Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras por minha causa e por causa do evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna.»

Como quem diz: Pedro, fizeste bem em deixar tudo, pois é a única maneira de alguém Me seguir; em troca, Eu dar-te-ei, já nesta vida, cem vezes mais.

E o que é, minha filha querida, este cem vezes mais, ao qual é ainda acrescentada a vida eterna? O que queria dizer a minha Verdade com isto? Estaria a falar de bens temporais? Nem por isso, embora Eu por vezes os multiplique em benefício daqueles que são generosos com as esmolas. Então falava de quê? Ouve bem: aquele que Me dá a sua vontade, dá-me «uma» coisa; e Eu, em troca dessa coisa única, dou-lhe «cem».

Porquê o número cem? Porque é o número perfeito, ao qual nada pode ser acrescentado, a não ser que se volte ao princípio na contagem. Também a caridade é a mais perfeita de todas as virtudes; é impossível alguém elevar-se a uma virtude mais perfeita, e só se pode aumentar a sua perfeição voltando ao princípio no conhecimento pessoal e dando início a uma nova centena de méritos; mas acaba-se sempre a contagem quando se chega ao número cem. É esse o cêntuplo que dou aos que Me entregaram o um da sua vontade própria, seja pela obediência comum, seja pela obediência particular.

E com este cêntuplo chegareis à vida eterna. (Santa Catarina de Sena: «Sobre a obediência», cap. VII, n.º 160)

segunda-feira, 24 de maio de 2021

A LUZ DO AMOR DE DEUS

Esta luz conduz-nos pela mão


Esta luz conduz-nos pela mão, fortifica-nos, ensina-nos, mostrando-se, mas fugindo assim que temos necessidade dela. Não é quando a queremos – o que pertence aos perfeitos – mas é assim que ficamos embaraçados e completamente esgotados que ela vem em nosso socorro. Ela aparece de longe e faz-me senti-la no meu coração. Grito até me sufocar de tanto que a quero prender, mas tudo é noite, e vazias estão as minhas pobres mãos. Esqueço tudo, sento-me e choro, desesperando de a ver ainda uma outra vez. Quando chorei muito e consenti em me deter, então, vindo misteriosamente, ela toma-me a cabeça, e eu derreto-me em lágrimas sem saber quem está a iluminar o meu espírito de uma luz muito doce. (S. Simeão o Novo Teólogo: Hino 18.)

O MATRIMÓNIO ESPIRITUAL

Manifestar a glória que há no Céu


O que se passa na união do matrimónio espiritual é muito diferente (das núpcias). Aparece o Senhor neste centro da alma sem visão imaginária, mas intelectual, ainda que mais delicada que as ditas, como apareceu aos Apóstolos, sem entrar pela porta, quando lhes disse: “Pax vobis”. É um segredo tão grande e uma mercê tão subida o que Deus ali comunica à alma num instante, e o grandíssimo deleite que a alma sente, que eu não sei a que o comparar: mas o Senhor quer-lhe manifestar, por aquele momento, a glória que há no Céu, por uma maneira mais subida que nenhuma outra visão e gosto espiritual. Não se pode dizer mais senão que – tanto quanto se pode entender – fica a alma, digo, o espírito desta alma, feito uma coisa com Deus; pois, como Ele é também espírito. (Santa Teresa de Avila: “Moradas”; 7as moradas; cap. 2)

JESUS ENSINA-ME EM SEGREDO

A ciência do amor


Não penseis que nado em consolações, oh não! meu consolo é não ter consolações na terra. Sem mostrar-se, sem se fazer ouvir, Jesus ensina-me em segredo, não é por meio dos livros, pois não entendo o que leio, às vezes, porém, uma palavra como esta que destaquei no final da oração (após ter ficado no silêncio e na aridez) vem consolar-me: “Eis o mestre que te dou, ensinar-te-á o que deves fazer. Quero levar-te a ler no livro da vida onde está a ciência do amor”. A ciência do Amor, oh sim! esta palavra soa doce ao ouvido da minha alma, só desejo essa ciência. Tendo dado por ela todas as minhas riquezas, cálculo, como a esposa dos cânticos sagrados, nada ter dado... Entendo tão bem que só o amor possa nos tornar agradáveis a Deus, que fiz dele o único objecto dos meus desejos. (Santa Teresinha do Menino Jesus: “História de uma alma”, Manuscrito B).

PARA AMAR É NECESSÁRIO DAR

«Retirou-se pesaroso, porque era muito rico»


Não nos arrogamos o direito de julgar os ricos. O que desejamos não é uma luta de classes, mas um encontro entre as classes, um encontro no qual o rico salva o pobre e o pobre salva o rico.

A pobreza é a nossa maneira humilde de admitirmos e aceitarmos o estado de pecado, de impotência e de extremo vazio em que nos encontramos diante de Deus; é a maneira de reconhecermos o nosso estado de miséria, mas que se exprime como esperança nele, como espera para tudo recebermos dele, que é o nosso Pai. A nossa pobreza deve ser uma autêntica pobreza evangélica – amável, terna, feliz, vivida de coração aberto, sempre pronta a dar um sinal de amor. A pobreza é amor antes de ser renúncia. Para amar, é necessário dar. Para dar, é necessário estar liberto de todas as formas de egoísmo. (Santa Teresa de Calcutá: «Não há amor maior»)

sábado, 22 de maio de 2021

A ALMA DE MARIA

Que em todos resida o espírito de Maria


Que em todos resida a alma de Maria que glorifica o Senhor; que em todos resida o espírito de Maria que exulta em Deus. Se, fisicamente, há uma só Mãe de Cristo, pela fé, Cristo é fruto de todos, porque todas as almas recebem o Verbo de Deus se permanecerem sem mancha, preservadas do mal e do pecado, guardando a castidade numa pureza inalterada. Assim, todas as almas que alcançam este estado exaltam o Senhor, como a alma de Maria exaltou o Senhor e o seu espírito se alegrou em Deus Salvador.

Com efeito, o Senhor é exaltado, como lestes noutra passagem: “Em uníssono exaltemos o Seu nome” (Sl 33, 4). Não que a palavra humana possa acrescentar seja o que for ao Senhor, mas porque Ele cresce em nós. Porque “Cristo é a imagem de Deus” (2 Cor 4, 4), de maneira que a alma que faz coisas justas e religiosas exalta esta imagem de Deus, à semelhança da qual foi criada. E, exaltando-a, participa de alguma maneira na sua grandeza, na qual é elevada, parecendo reproduzir em si esta imagem através das cores vivas das suas boas obras, e como que copiá-la pelas suas virtudes. (S. Ambrósio de Milão: Comentário a S. Lucas 2, 26-27)

SOBERANA DO CÉU E DA TERRA

Foi o teu Filho, ó Maria!


Foi o teu Filho, ó Maria! Foi Ele que, por ti, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia e, na tua carne, subiu acima de todos os Céus, para restaurar todas as coisas. Tu estás, por isso, na posse da tua alegria, ó bem-aventurada, tu recebeste em herança o objecto do teu desejo e a coroa da tua cabeça. Ele trouxe-te a soberania do Céu pela glória, a realeza do mundo pela misericórdia, o domínio do inferno pelo poder. Com sentimentos diversos, todas as criaturas respondem, pois, à tua glória grande e inefável: os anjos pela honra, os homens pelo amor, os demónios pelo temor. Pois tu és venerável para o Céu, amável para o mundo, terrível para o inferno. (Santo Amadeu de Lausana: Homilia mariana III, SC 72)

DITOSA MARIA

Criada por Cristo antes de Cristo


Peço-vos que repareis no que diz o Senhor ao estender a mão para os seus discípulos: «Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.» Porventura não fez vontade do Pai a Virgem Maria, que acreditou pela fé e concebeu pela fé, que foi escolhida para que dela nascesse a salvação entre os homens e que foi criada por Cristo antes de Cristo ter sido criado nela? Maria cumpriu, e cumpriu perfeitamente, a vontade do Pai; e por isso Maria tem mais mérito por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido Mãe de Cristo; mais ditosa é Maria por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido Mãe de Cristo. Portanto, Maria era bem-aventurada porque, antes de dar à luz o Mestre, O trouxe no seio. (Santo Agostinho de Hipona: Sermão 25 sobre São Mateus; PL 46, 937)

Ó MARIA, ROGAI A JESUS POR MIM

 Vós não fostes senão caridade


Ah, meu Redentor, quão longe estou de me parecer convosco! Vós não fostes senão caridade para com os vossos perseguidores, e eu rancoroso e odiento para com o meu próximo! Vós rogastes com tanto amor pelos que Vos crucificaram, e eu só penso em tomar vingança de quem me desagradou! Perdoai-me, ó meu Jesus, não quero mais ser o que fui. Proponho firmemente imitar-Vos de hoje em diante, custe o que custar; proponho amar a quem me ofende e fazer-lhe bem. Dai-me a graça de Vos ser fiel. — Ó Maria, Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim; dai-me uma parte de vosso amor para com o próximo; a vossa protecção é a minha esperança. (IV 178). (Santo Afonso de Ligório: Meditações).

ORAÇÃO DE S. BERNARDO A MARIA

 

Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria


Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que alguém que recorreu à vossa protecção, implorou vossa assistência ou reclamou vosso socorro tenha sido por vós desamparado.

Animado com a mesma confiança, a vós, ó Virgem, entre todas singular, recorro como à mãe e de vós me valho e sob o peso dos meus pecados me prostro a vossos pés.

Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus Humanado, mas dignai-vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo. Amém. (S. Bernardo de Claraval: Orações)

sexta-feira, 21 de maio de 2021

SANTA OUSADIA !

Ides dizer não à vossa Mãe?


O Senhor, para mostrar à sua serva os motivos muito poderosos a que tinha de resistir, manifestou-lhe um a um e com os seus menores detalhes as faltas daquele pecador... “Eu sei disso, Jesus, eu sei disso. Muitos são os seus defeitos, mas quanto maiores eu cometi e vós me perdoastes. Sim, confesso que não mereço que me ouçais. Mas vou apresentar-vos outra intercessora para o meu pecador. É a vossa Mãe que está a rezar por ele. Ides dizer não à vossa Mãe? Não podeis dizer-lhe que não. Agora podeis responder que perdoaste o meu pecador...” “Ele está salvo, está salvo, está salvo, Jesus, tu venceste. Triunfa, triunfa sempre e triunfa assim”. (Santa Gemma Galgani: “Escritos espirituais”).

SEMENTE DA GRAÇA

A graça de Deus não deve ser abafada


A graça de Deus é uma semente que não deve ser abafada, mas que também não deve ser excessivamente exposta. É necessário alimentá-la no coração e não a mostrar excessivamente aos olhos dos homens.

Há dois tipos de graças aparentemente pequenas, das quais pode depender a nossa perfeição e a nossa salvação. Uma é a luz que nos revela uma verdade: devemos acolhê-la cuidadosamente e cuidar de que não se extinga por nossa culpa; devemos utilizá-la como regra em todas as nossas acções, ver aonde nos leva, etc. Outra é o movimento que nos leva a fazer determinada acção virtuosa numa ou noutra ocasião; devemos ser fiéis a estes movimentos, porque tal fidelidade é, por vezes, o núcleo da nossa felicidade.

Se ouvirmos a voz de Deus quando nos inspira uma mortificação em determinadas circunstâncias, veremos grandes frutos de santidade em nós; pelo contrário, o desprezo desta pequena graça poderia ter consequências funestas, como acontece aos favoritos caídos em desgraça por serem complacentes em coisas pequenas. (São Cláudio de La Colombière: Diário espiritual).

LIBERTOS DO PECADO PELA CRUZ DE CRISTO

As correntes dos nossos pecados


Dizia São Paulo: «Quanto a mim, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Gal 6,14). Foi coisa deveras admirável ter aquele cego de nascença recuperado a vista em Siloé; mas que significou isso para os cegos de todo o mundo? A ressurreição de Lázaro, morto havia quatro dias, foi coisa grande, que ultrapassou a natureza; mas essa graça aproveitou apenas a ele, nada trouxe a todos os que, no mundo, tinham morrido pelos seus pecados. Foi assombroso fazer brotar, a partir de apenas cinco pães, alimento bastante para saciar cinco mil homens; mas isso nada significou para aqueles que, em todo o universo, sofriam de fome e de ignorância. Admirável foi a libertação de uma mulher acorrentada por Satanás havia dezoito anos; mas que significará esse facto comparado com a nossa situação de presos pelas correntes dos nossos pecados?

Mas a vitória da cruz conduziu à luz todos aqueles que a ignorância tornava cegos, libertou todos os que o pecado fazia cativos e resgatou toda a humanidade. Não te surpreenda que o mundo inteiro tenha sido resgatado. Aquele que morreu por este resgate não era só um homem, mas o Filho unigénito de Deus. O pecado de Adão trouxe a morte ao mundo; ora, se a queda de um só fez reinar a morte sobre todos os homens, não há de a justiça de um só, com muito mais forte razão, fazer reinar a vida (cf. Rom 5, 17)? Se outrora, pela árvore cujo fruto comeram, os nossos primeiros pais foram expulsos do paraíso, não hão de agora, pela árvore da cruz de Jesus, entrar os crentes muito mais facilmente no Paraíso? Se o primeiro ser modelado de barro trouxe a morte a todos, não há de Aquele que do barro o modelou trazer a todos a vida eterna, Ele que é a própria Vida (cf. Jo 14,6)? (S. Cirilo de Jerusalém: Catequese baptismal, n° 13)

COMO PEDRO, AMEMOS JESUS

«Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo»


Eis que o Senhor, depois da sua ressurreição, aparece de novo aos seus discípulos; e, interrogando o apóstolo Pedro, obriga-o a confessar o seu amor, ele que, por medo, O havia negado três vezes: Cristo ressuscitou segundo a carne, e Pedro, segundo o espírito. Tal como Cristo morrera sofrendo, Pedro morrera negando. Mas o Senhor Jesus Cristo ressuscitou de entre os mortos, e ressuscitou Pedro, pelo amor que este Lhe tinha; interrogou o amor daquele que se declarava agora abertamente, e confiou-lhe o seu rebanho.

O que era que Pedro dava a Cristo pelo facto de O amar? Se Cristo nos ama, somos nós, e não Ele, os beneficiados. Se nós amamos a Cristo, também somos nós, e não Ele, que ganhamos. E o Senhor Jesus, querendo mostrar-nos como devem os homens provar que O amam, revela-no-lo claramente: amando as suas ovelhas.

«Simão, filho de João, tu amas-Me?». «Sim, amo-Te». «Apascenta as minhas ovelhas»; disse-o uma, duas, três vezes. E Pedro apenas responde com o seu amor. Amemo-nos, pois, uns aos outros e amaremos a Cristo. (Santo Agostinho de Hipona: Sermão Guelferbytanus 16, 1; PLS 2, 579).

quinta-feira, 20 de maio de 2021

A VINHA DA NOSSA ALMA

Deus fez de nós o seu templo, onde quer habitar pela sua graça


Meu querido Pai e Irmão em Cristo, doce Jesus, eu, Catarina, escrava dos servos de Deus, escrevo-vos no seu precioso sangue, com o desejo de que sejais bom operário na vinha da vossa alma, a fim de que deis muito fruto no tempo da colheita, ou seja, no momento da morte, altura em que todas as faltas são punidas e todas as virtudes recompensadas.

Sabeis que a verdade eterna nos criou à sua imagem e semelhança; Deus fez de nós o seu templo, onde quer habitar pela sua graça, desde que o operário desta vinha queira cultivá-la, pois se ela estiver coberta de cardos e espinhos, não poderá habitar nela. Vejamos, querido Pai, qual foi o operário que o Mestre nela colocou: o livre arbítrio, a quem confiou todo o poder. Ninguém pode abrir nem fechar a porta da vontade se o livre arbítrio o não quiser. A luz da inteligência é-lhe dada para conhecer os amigos e os inimigos que querem entrar e passar pela porta; e nesta porta está colocado o cão da consciência, que ladra quando ouve chegar alguém, se estiver acordado. Esta luz permite que o operário veja e distinga o fruto; ele afasta a terra, para que o fruto seja puro, e coloca-o na memória como num celeiro, onde fica guardada a recordação dos benefícios divinos. No meio da vinha, está colocado o vaso do seu coração cheio do precioso sangue, para regar as plantas, a fim de que não sequem.

Foi desta maneira que foi criada e que está disposta esta vinha, que é também, como dissemos, o templo onde Deus quer habitar pela sua graça. (Santa Catarina de Sena: Carta 45 ao conde de Fondi, n.º 192).

AS ALMAS NO PURGATÓRIO

A causa de estarem no purgatório


A causa de estarem no purgatório, essas almas a vêem uma só vez, quando passam desta vida. Já não podem vê-la mais, pois, caso contrário, haveria uma posse. Portanto, estando essas almas em caridade e, não podendo desviar-se dela com nenhum defeito actual, não podem querer nem desejar senão o puro querer da pura caridade. Estando no fogo do purgatório, estão dentro da disposição divina, a qual é caridade pura, e não podem desviar-se o mínimo em nenhuma outra coisa, porque estão também igualmente impossibilitadas de pecar como de merecer. (Santa Catarina de Génova: Tratado do Purgatório. Introdução, 1).

PORQUE SOIS FRACOS E VULNERÁVEIS?

A ignorância dos que não se convertem


Diz o apóstolo [Paulo] que alguns mostram que não conhecem a Deus (cf. 1Cor 15,34). Por mim, acrescento que não conhecem a Deus todos os que não querem converter-se a Ele, uma vez que O rejeitam unicamente porque fazem daquele que é só ternura um Deus solene e severo, daquele que é só misericórdia um Deus duro e implacável, daquele que só quer ser amado um Deus feroz e terrível. Assim, aliam a mentira à iniquidade (cf. Sl 27,12 Vulg.), fabricando para si próprios um ídolo em vez de verdadeiramente quererem conhecer a Deus.

Porque temeis, homens de pouca fé (cf Mt 8,26)? Porque Ele não está disposto a perdoar-vos os pecados? Mas se os cravou na cruz com as suas próprias mãos (cf. Col 2,14)! Porque sois fracos e vulneráveis? Mas se Ele conhece o pó de que somos formados (cf Sl 103,14)! Porque, de estardes acostumados ao mal, tendes dificuldade em sair dele? Mas se o Senhor salva os cativos (cf Sl 146,7)! Que, irado com a crueldade de crimes inumeráveis, possa suster o seu braço salvador? Mas se onde abundou o pecado, superabundou a graça (cf Rom 5,20)! Que a inquietude pelo que vestir ou pelo que comer, ou por tudo o mais na vida, vos faça tardar o desprendimento? Mas se Ele bem sabe que tendes necessidade de tudo isso (cf Mt 6,25-32)! Que mais quereis? O que vos impede a salvação? Por isso vos digo: desconheceis a Deus e não acreditais no que ouvis de nós (cf Is 53,1). Quem dera que désseis crédito a quem já o experimentou, porque se não acreditardes, não podereis compreender (cf Is 7,9). (S. Bernardo de Claraval: Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, 38, 2)

A TRIPLA MISERICÓRDIA

A misericórdia do Pai é boa, ampla e preciosa


«Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso».

Assim como a misericórdia do Pai celeste por ti é tripla, assim deve ser a tua misericórdia com o teu próximo. A misericórdia do Pai é boa, ampla e preciosa: «A misericórdia no tempo da tribulação é propícia, como nuvem de chuva no tempo da seca» (Sir 35,24). No tempo da prova, quando o espírito se entristece por causa dos seus pecados, Deus infunde a chuva da graça, que é refrigério para a alma e remissão dos pecados. A misericórdia é ampla porque se estende às boas obras ao longo dos tempos. E é preciosa nas alegrias da vida eterna. «Vou recordar as misericórdias do Senhor, os seus feitos gloriosos, tudo quanto fez por nós o Senhor, toda a sua bondade para com o povo de Israel, tudo o que fez por eles na sua benignidade, e com a sua imensa misericórdia» (Is 63,7). A tua misericórdia pelo teu próximo também deve ter estas três qualidades: se ele pecou contra ti, perdoa-lhe; se está afastado do caminho da verdade, instrui-o; se tem sede, sacia-o, pois diz Salomão: «Os teus pecados serão purificados pela fé e a misericórdia» (cf. Prov 15,27, LXX). «Aquele que converte um pecador do seu erro salvará da morte a sua alma e obterá o perdão de muitos pecados», recorda São Tiago (Tg 5,20); e diz o salmo: «feliz daquele que cuida do pobre» (Sl 40,2) (Santo António de Lisboa: Sermão para o quarto domingo depois de Pentecostes)

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ANTÓNIO DE LISBOA
Sacerdote, Santo e Doutor da Igreja
(1195-1231)

quarta-feira, 19 de maio de 2021

VIRGINDADE DE MARIA

 Ele saiu do seio da Virgem sem o abrir


Como é que o corpo do Senhor, uma vez ressuscitado, continuou a ser um corpo verdadeiro, podendo, ao mesmo tempo, entrar no local onde os discípulos se encontravam apesar de as portas estarem fechadas?

Devemos estar cientes de que a acção divina nada teria de admirável se a razão humana pudesse compreendê-la; e que a fé não teria mérito se o intelecto lhe fornecesse provas experimentais. Sendo, por si mesmas, incompreensíveis, tais obras do nosso Redentor devem ser meditadas à luz das outras acções do Senhor, de forma que sejamos levados a acreditar nestes seus feitos maravilhosos por força daqueles que ainda o são mais. Com efeito, o corpo do Senhor que se juntou aos discípulos não obstante estarem as portas fechadas é o mesmo que a natividade tornou visível aos homens, ao sair do seio fechado da Virgem. Não fiquemos, pois, admirados de que o nosso Redentor, depois de ter ressuscitado para a vida eterna, tenha entrado com as portas fechadas, porque, tendo vindo ao mundo para morrer, Ele saiu do seio da Virgem sem o abrir. (S. Gregório Magno: Homilias sobre os Evangelhos, n° 26; PL 76,1197)

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GREGÓRIO MAGNO
Papa, Santo, Doutor da Igreja
(540-604)

A CADA UM SUA CRUZ

 Cada um terá de levar a sua cruz!


Gertrudes viu o Senhor avançar por um caminho agradável pela beleza das folhagens e das flores, mas estreito e áspero, e passando por entre espessos arbustos de espinhos. O Senhor parecia avançar atrás de uma cruz, que, afastando os espinhos para os lados, abria uma passagem, e voltava-Se, de rosto sereno, para os que O seguiam, animando-os e dizendo-lhes: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me».

Compreendeu então que cada um tem como cruz as suas provações. Por exemplo, a cruz de uns consiste em, sob o aguilhão da obediência, agirem contrariamente à própria vontade; a de outros, em verem o peso das doenças opor obstáculos à sua liberdade; e por aí fora. Cada um terá de levar a sua cruz aceitando de boa vontade sofrer o que o contraria, e aplicando-se nisso o melhor que puder, sem negligenciar coisa alguma que sabe ser em louvor de Deus. (Santa Gertrudes de Helfta: Arauto; Livro III)

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GERTRUDES DE HELFTA
Religiosa, Mística, Santa
(1256-1302)

DOMAR AS MINHAS PAIXÕES

Não sou digna de tanta solicitude


Meu Deus – escreveu novamente em êxtase – fazei um braçado das minhas inclinações perversas e aproximai-o do vosso Coração, para que com o fogo do vosso amor se possa consumar. Sei bem, meu Deus, que não sou digna de tanta solicitude, mas farei um esforço especial para domar minhas paixões; prometo não me aproximar de vossa Mesa sem antes me ter vencida a mim mesma. (Santa Gema Galgani: “Autobiografia”).

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GEMA GALGANI
Religiosa passionista, Santa
(1878-1903)

SANTA FAUSTINA E O INFERNO

Tipos de tormentos


Hoje, conduzida por um Anjo, fui levada às profundezas do Inferno um lugar de grande castigo, e como é grande a sua extensão.

Tipos de tormentos que vi:

Primeiro tormento que constitui o Inferno é a perda de Deus; o segundo, o contínuo remorso de consciência; o terceiro, o de que esse destino já não mudará nunca; o quarto tormento, é o fogo que atravessa a alma, mas não a destrói; é um tormento terrível, é um fogo puramente espiritual, aceso pela ira de Deus; o quinto é a contínua escuridão, o terrível cheiro sufocante e, embora haja escuridão, os demónios e as almas condenadas vêem-se mutuamente e vêem todo o mal dos outros e o seu. O sexto é a contínua companhia do demónio; o sétimo tormento, o terrível desespero, ódio a Deus, maldições, blasfémias.

São tormentos que todos os condenados sofrem juntos mas não é ó fim dos tormentos. Existem tormentos especiais para as almas, os tormentos dos sentidos. Cada alma é atormentada com o que pecou, de maneira horrível e indescritível. Existem terríveis prisões subterrâneas, abismos de castigo, onde um tormento se distingue do outro. Eu teria morrido vendo esses terríveis tormentos, se não me sustentasse a omnipotência de Deus. (Santa Faustina Kowalska: Diário)

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FAUSTINA KOWALSKA
Religiosa, Mística, Santa
(1904-1938)

BEBER O SANGUE DE CRISTO

Pareceu-me que aplicava os meus lábios


Não dormia. Ele chamou-me e disse-me que aplicasse os meus lábios sobre a ferida do seu lado. Pareceu-me que aplicava os meus lábios, e que bebia sangue, e neste sangue ainda quente eu compreendi que ficava lavada. Eu senti pela primeira vez uma grande consolação, misturada uma grande tristeza, porque tinha a Paixão diante dos meus olhos. E solicitei do Senhor a graça de derramar o meu sangue por Ele como Ele tinha derramado o seu para mim. (Santa Ângela de Foligno: Visões e instruções; cap. 14).

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ANGELA DE FOLIGNO
Religiosa franciscana, Mística, Santa
(1248-1309)

ALEGRA-TE E REJUBILA, Ó MARIA

Rejubila, pois ficarás grávida do Espírito Santo


Alegra-te e rejubila, ó Maria, pois conceberás de um sopro. Rejubila, pois ficarás grávida do Espírito Santo. Tu eras a esposa de José, mas o Espírito Santo tomou primeiro conta de ti. Aquele que te criou, assinalou-te e reservou-te para Si. O teu Criador, enamorado da tua beleza, quis ser teu Esposo; e é este mesmo Criador que chama por ti, dizendo: «Vem, minha amiga, minha bela, minha pomba, porque o inverno já passou e se foi, vem» (cf. Ct. 2,1.14). Ele cobiçou a tua beleza e desejou unir-Se a ti; e não quer esperar, mas tem pressa de vir ter contigo. (Santo Amadeu de Lausana: Homilia mariana III, SC 72)

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Monge cisterciense, Bispo, Santo
(1108-1159)

A ALMA DE MARIA

A alma de Maria engrandece o Senhor


Esteja em cada um a alma de Maria que engrandece o Senhor, esteja em todos o espírito de Maria que exulta em Deus; se, segundo a carne, uma só é a mãe de Cristo, segundo a fé todas as almas geram Cristo; de facto, cada uma acolhe em si o Verbo de Deus... A alma de Maria engrandece o Senhor, e o seu espírito exulta em Deus, porque, consagrada com a alma e com o espírito ao Pai e ao Filho, ela adora com afecto devoto um só Deus, do qual tudo provém, e um só Senhor, em virtude do qual todas as coisas existem. (Santo Ambrósio de Milão: Exposição sobre o Evangelho de S. Lucas, 2, 26-27).

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Bispo, Padre e Doutor da Igreja
(ca 340-397)

terça-feira, 18 de maio de 2021

A ORAÇÃO DO SENHOR

Pai-nosso, que estás nos céus


Quais são, caríssimos irmãos, os mistérios da oração do Senhor? Quantos e quão grandes são eles, condensados em palavras breves mas prenhes de força espiritual, que nada omitem e fazem dessa oração um compêndio da doutrina celeste?

Diz ele: "Assim deveis orar: Pai-nosso, que estás nos céus". O homem novo, renascido e restaurado para Deus, pela graça, diz, logo de início, Pai, porque já começou a ser filho. "Veio para o que era seu e os seus não o receberam. A todos, porém, que o receberam, deu o poder de se tornarem filhos de Deus, a todos os que crêem em seu nome". [Jo 1,115]. Assim, aquele que crê em seu nome e se torna filho de Deus, há de começar imediatamente a dar graças e a confessar-se filho de Deus. E ao dirigir-se a Deus, chamando-o de Pai que está no céu, indica também, por suas primeiras palavras da vida nova, que renunciou ao pai terreno e carnal, que reconhece o Pai que principiou a ter no céu. Pois está escrito: "Quem diz a seu pai e a sua mãe, não os conheço, e a seus filhos, não sei quem sois, este guardou os teus preceitos e conservou o teu testamento" [Dt 33,9]. Também o Senhor ensinou que não devemos chamar a ninguém" pai", na terra, porque só existe para nós um Pai que está nos céus. E respondeu ao discípulo que fizera menção do pai falecido: "Deixa aos mortos que sepultem os seus mortos" [Mt 8,22]. Ele havia dito que o seu pai estava morto, contudo o Pai dos crentes vive.

Como é grande, portanto, a indulgência do Senhor! Ele nos envolve com a abundância da sua graça e bondade, a ponto de querer que o chamemos Pai, ao elevarmos a Deus a nossa oração, de modo que assim como Cristo é Filho, nós também sejamos chamados filhos. Se o próprio Cristo não nos tivesse permitido orar dessa maneira, quem de nós ousaria pronunciar tal nome de Pai? Por isso devemos estar conscientes de que se damos a Deus tal apelativo precisamos agir como filhos seus, para que assim como nos alegramos com Deus Pai, também se alegre Ele connosco. Vivamos, portanto, como templos de Deus, para que se note que Ele habita em nós. Que nossa acção não seja indigna do Espírito, para que não nos aconteça ter começado a ser do céu e pensar e praticar o que não é celeste nem espiritual. Com efeito, o Senhor nos adverte: – "Eu glorificarei os que me glorificam e desprezarei os que me desprezam" [15m 2,30]. Igualmente diz o bem-aventurado Apóstolo: "Não sois vossos. Fostes comprados por um grande preço. Glorificai a Deus trazendo-o em vosso corpo" [1 Cor 6,19]. (S. Cipriano de Cartago: “A oração do Senhor”).

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CIPRIANO DE CARTAGO
Bispo de Cartago e Mártir, Santo
(+258)

É NECESSÁRIO QUE ELE CRESÇA

«Neles sou glorificado»


«Nós viremos a ele», ou seja, ao homem santo, «e nele faremos morada» (Jo 14,23). E penso que o profeta não falava de outro Céu quando disse: «Tu, porém, és o Santo e habitas na glória de Israel» (Sl 22,4). E o apóstolo Paulo diz claramente: «que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações» (Ef 3,17). Não é, pois, surpreendente que a Cristo agrade viver nesse Céu. Se para criar o céu visível Lhe bastou falar, para adquirir este teve de lutar — e morreu para o resgatar. Foi por isso que, depois de todos os trabalhos, tendo realizado o seu desejo, Ele disse: «Este será para sempre o meu lugar de repouso, aqui habitarei, porque o escolhi» (Sl 132,14). E bem-aventurada seja aquela a quem é dito: «Anda, vem daí, ó minha bela amada!» (Cant 2,10), porei o meu trono em ti.

«Porque estás triste, minha alma, e te perturbas?» (Sl 42,6). Também pensas encontrar em ti um lugar para o Senhor? Que lugar há em nós que seja digno de tal glória, e bastará ela para receber Sua Majestade? [...] Que Ele Se digne fazer cair sobre a minha alma a unção da sua misericórdia, para que também eu possa dizer: «Correrei pelo caminho dos teus mandamentos, porque deste largas ao meu coração» (Sl 119,32). E talvez eu seja capaz de mostrar em mim, se não «uma grande sala no andar de cima, mobilada e toda pronta» (Mc 14,15), para Ele comer a Páscoa com os seus discípulos, pelo menos um lugar onde Ele possa «reclinar a cabeça» (Mt 8,20).

É necessário que alma cresça e se alargue para ser capaz de Deus. Ora, a sua largura é o seu amor, como diz o apóstolo Paulo: «Dilatai, também vós, o vosso coração» (2Cor 6,13). Pois, embora a alma não tenha dimensão espacial, uma vez que é espírito, a graça confere-lhe o que a sua natureza exclui. [...] A grandeza de cada alma é, pois, a medida da sua caridade. Ainda que aquela que tem muita caridade seja grande, a que tem pouca é pequena e a que nada tem é nada. Com efeito, São Paulo afirma: «Se não tiver caridade, nada sou» (1Cor 13,3). (São Bernardo: Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, n.º 27, 8-10).

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Sacerdote, Religioso, Santo, Doutor da Igreja
(1090-1153)

segunda-feira, 17 de maio de 2021

DEUS ILUMINOU A MINHA INTELIGÊNCIA

Nossa fé torna-se mais forte


Deus iluminou a minha inteligência, mostrando-me como realiza os milagres: «É sabido que realizei aqui em baixo muitos milagres impressionantes e maravilhosos, gloriosos e magníficos. O que fiz então, faço-o ainda continuamente, e fá-lo-ei nos tempos vindouros». Sabemos que qualquer milagre é precedido de sofrimentos, angústias e tribulações. Isso acontece para que tomemos consciência da nossa fraqueza e dos erros que cometemos pelos nossos pecados, nos tornemos humildes e nos voltemos para Deus, implorando o seu auxílio e a sua graça. Os milagres surgem a seguir: têm origem no poder, na sabedoria e na bondade de Deus, e revelam a sua força e as alegrias do Céu, tanto quanto é possível conhecê-las nesta vida passageira. Assim, a nossa fé torna-se mais forte e a nossa esperança cresce no amor. É por isso que agrada a Deus ser conhecido e glorificado através dos milagres. Ele não quer que fiquemos acabrunhados pela tristeza e pelas tempestades que se abatem sobre nós. (Juliana de Norwich: “Revelações do amor divino”).

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JULIANA DE NORWICH
Beneditina, Mística inglesa, Beata
(1342-1421)