Devemos ser pacíficos para ser chamados filhos de Deus
Bem-aventurados
os mansos, porque receberão a terra em herança (Mt 5, 5). Os mansos devem,
pois, ter um carácter cordato e um coração sincero; e o Senhor mostra, de modo
evidente, que seu mérito não é pequeno, ao dizer: Porque receberão a terra em
herança, esta terra acerca da qual está escrito: Tenho certeza que vou contemplar
a bondade do Senhor na terra dos vivos (Sl 26 [27]. A herança daquela terra é a
imortalidade do corpo e a glória da ressurreição. Pois a mansidão ignora o
orgulho, ignora a soberba, ignora a ambição. Não é sem motivo que o Senhor, em
outro lugar, exorta seus discípulos nestes termos: Sede meus discípulos, porque
sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós (Mt 11, 29).
Bem-aventurados
os que choram, porque serão consolados (Mt 5, 4). Não os que choram a perda de
seus entes queridos, mas os que deploram seus próprios pecados, que lavam com
lágrimas suas faltas; ou ainda, os que lastimam as injustiças deste mundo, ou
lamentam os pecados alheios.
Bem-aventurados
os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5, 9). Vê quão
grande é o mérito dos promotores da paz: de agora em diante não são mais
chamados servos, mas filhos de Deus. E é justo que assim seja, pois quem ama a
paz, ama Cristo, autor da paz, a quem o Apóstolo Paulo chama de paz, dizendo:
Ele é a nossa paz (Ef 2, 14). Ao contrário, quem não ama a paz segue a
discórdia, porque ama o demónio, autor da discórdia. Foi ele que, desde o começo,
instaurou a discórdia entre Deus e o homem, tornando o homem um transgressor
dos mandamentos de Deus. Mas o Filho de Deus desceu do céu precisamente para
condenar o demónio, autor da discórdia, e promover a paz entre Deus e o homem,
reconciliando o homem com Deus e levando Deus a devolver ao homem a sua graça.
Eis porque
devemos ser promotores da paz: para merecermos também ser chamados filhos de
Deus. Porque sem a paz, não só perdemos nosso nome de filhos, mas até o de
servos, no dizer do Apóstolo: Amai a paz, sem a qual nenhum de nós pode agradar
a Deus (cf. Hb 12, 14). (São Cromácio de Aquiléia: Sermão 39).
Na imgem:
S. Cromácio de Aquileia.
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