Pela graça divina, seguem os passos de Cristo
O verbo escutar,
nós o compreendemos no sentido de aquiescer ao que é dito. Na verdade, aqueles
que escutam a Deus são por ele conhecidos, pois, ser conhecido significa estar
unido. Não há ninguém que seja inteiramente ignorado por Deus. Com efeito,
quando afirma: Conheço minhas ovelhas (Jo 10, 14), Cristo quer dizer: “Eu as
acolherei e as unirei a mim misticamente e por uma união de amor”.
Podemos afirmar
que, ao fazer-se homem, ele se uniu à humanidade toda por uma união de natureza
e de consanguinidade. Assim procedeu, para que todos nos unamos e nos
assemelhemos a Cristo por uma relação mística, em virtude de sua encarnação.
Aqueles, porém, que não guardam a semelhança de sua santidade, lhe são
estranhos.
Disse ainda:
Minhas ovelhas me seguem (Jo 10, 27). De facto, aqueles que crêem, pela graça
divina, seguem os passos de Cristo. Não obedecem mais aos preceitos da lei, que
eram figuras, mas, seguindo pela graça divina os preceitos e a palavra de
Cristo, elevam-se até sua dignidade, sendo, por conseguinte, chamados filhos de
Deus (1Jo 3, 1). Quando Cristo sobe ao céu, eles também o acompanham.
O Senhor promete
aos que o seguem, dar-lhes a recompensa e o prémio da vida eterna. Promete
ainda preservá-los da morte e da corrupção, bem como dos castigos reclamados
pelo juiz, contra os que cometeram transgressões. Cristo, pelo fato de dar sua
vida, mostra que, por natureza, é a vida em pessoa; e que essa vida, ela a dá
de si mesmo, sem recebê-la de outro.
Por vida eterna
(Jo 10, 28), compreendemos não essa interminável sucessão dos dias que todos,
bons ou maus, possuirão depois da ressurreição, mas a vida que passaremos na
alegria. Podemos também compreender a vida no sentido de eucaristia. Por ela,
Cristo enxerta em nós sua própria vida, fazendo com que os fiéis participem de
sua carne. Pois ele disse: Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida
eterna (Jo 6, 54). (São Cirilo de Alexandria, bispo: Comentário sobre o
Evangelho de São João).
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