domingo, 6 de junho de 2021

ESTA VOZ, NÓS A OUVIMOS

Cristo escolheu os apóstolos entre os pecadores


O bem-aventurado apóstolo Pedro, quando estava no monte com o Senhor e outros dois discípulos de Cristo, Tiago e João, ouviu uma voz vinda do céu: Este é o meu filho amado, nele está meu pleno agrado: escutai-o! (Mt 17, 5). O apóstolo lembra-se disto em sua Carta e dá seu testemunho, dizendo: Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele na montanha santa. E depois acrescenta: Assim tornou-se ainda mais firme para nós a palavra da profecia (2Pd 1, 18-19).

Esse Pedro, que assim fala, era um pescador, mas agora merece grandes louvores como pregador, se é que ainda se pode nele reconhecer aquele que pescava. Por isso, o Apóstolo Paulo diz aos primeiros cristãos: De fato, irmãos, reparai em vós mesmos, os chamados: não há entre vós muitos sábios de sabedoria humana, nem muitos poderosos, nem muitos de família nobre. Mas o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte. Deus escolheu o que no mundo não tem nome nem prestígio, aquilo que é nada, para assim mostrar a nulidade dos que são alguma coisa (1Cor 1, 26-28).

Se, pois, Cristo tivesse escolhido primeiro um orador, diria este: “Fui escolhido por causa da minha eloquência”. Se tivesse escolhido um senador, diria este: “Fui escolhido por causa da minha dignidade”. Por fim, se tivesse escolhido um imperador, este diria: “Fui escolhido por causa do meu poder”. Calem-se esses, esperem e acalmem-se um pouco: não serão abandonados nem desprezados; mas sejam postos um pouco à parte os que podem gloriar-se de si mesmos.

Dá-me, disse ele, aquele pescador, dá-me aquele ignorante, dá-me aquele incapaz; dá-me aquele com quem o senador não se digna falar, mesmo quando compra um peixe: dá-me esse. Quando eu o tiver transformado, ficará claro que fui eu que agi. Também agirei no senador, no orador e no imperador; mas se trabalhei no senador, trabalharei com mais segurança no pescador. O senador poderá gloriar-se de si mesmo, como também o orador e o imperador; mas o pescador só pode gloriar-se de Cristo. Para ensinar a humildade que salva, venha primeiro o pescador; por meio dele o imperador será mais facilmente convencido.

Lembrai-vos, portanto, do pescador santo, justo, bom e repleto de Cristo, cuja missão de lançar a rede no mundo, abrangeu este povo entre os demais. Recordai-vos do que ele disse: Assim tornou-se ainda mais firme para nós a palavra da profecia (2Pd 1, 19). (Santo Agostinho de Hipona: Sermão 43, 5-7)

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